Eu também choro,

Tudo naquela terça começou atípico, um dia complexo pra mim que vivo no desespero de atrair clientes, fazer dinheiro, pagar contas, suprir necessidades minhas e alheias, cuidar das imagens mentais que me prendem, fazer postagens, cuidar da Lyla, isso aquilo e aquele outro…

Sua avó, minha mãe, meu ponto forte e fraco ao mesmo tempo, chega e me pede um favor que eu não posso fazer na hora que ela precisava.

Pronto, meu mundo desaba, porque começo a ser cobrada pela pequena em mim que vê ali uma grande ameaça de perder o amor de sua mamãe…

Medo, angustia, raiva, violência começam a tomar conta do meu dia em contraponto a busca por tranquilidade para poder estar com você, pegar você na escola…

E sabe Gigi, quando a raiva toma conta dos grandes, todo nosso foco se dirige para lá, ou seja, são tomadas nesse momento, as escolhas que vão apenas potencializar essa emoção, a raiva, e tudo isso inconscientemente.

Levei a Lyla comigo te buscar, mesmo me esquecendo que ela tem desespero para andar no parque, tenta pular no meu colo enquanto dirijo para poder se aventurar por todas as áreas que não são comuns a ela no dia-a-dia, culpa dela?

De maneira alguma! Se estivéssemos trabalhando aqui com culpa, seria apenas minha.

Enquanto isso no ABC, uma criança fora da sua rotina habitual, sem sua professora favorita, sem a maior parte de seus colegas, tendo que lidar com essa quebra de rotina no pós soninho. Pois é meu amor, acho que nessa você se parece mais com sua tia ao acordar do que com sua mãe…

Eu em frangalhos, você buscando amparo do grande que era responsável por você.

Resumo da história acima, você parada na calçada em frente ao carro chorando sem querer meu colo para entrar no carro, eu sentada ao seu lado sem saber o que fazer.

Chorando junto com você…

Um choro que estava contido, um choro que parecia ser errado.

Errado mostrar para você, que sim, nós grandões também choramos, temos o mesmo medo e decepções que você tão lindamente tem amadurecido.

Às vezes acho que esse é o problema da humanidade somos todos crianças com poder, ou seja, imaturos emocionais buscando a melhor couraça para lidar com as questões que se escancaram na nossa frente.

Foi ali que mais um laço de tia e sobrinha, se formou, nos unimos em nossas dores, você pequena eu grande me permitindo sentir o medo, sem que ele me sufocasse, sem que eu precisasse me defender dele, apenas encarando ele junto com você.

Buscando a maturidade mais pura e simples.

Entender que sim, nem sempre as coisas são como eu gostaria, mas isso não vai me engolir. Vai passar, na sua hora.

Até o momento que você aceitou meu colo para entrar no carro.

Lyla lá dentro, sem entender muito bem o que estava acontecendo, apenas ali, minha maravilhosa parceira dog!

Você se acalmou, eu chorei mais ainda, nunca vou me esquecer desse nosso breve dialogo, antes de ligar o carro para partir.

– Gigi, titia ama demais você, não importa o que você sinta ou faça. Titia não tá legal hoje, mas isso é apenas meu, não precisa pegar para você, não precisa fazer nada por mim, tudo bem?

O que mais me emociona foi sua resposta, como que se entendesse todo o sistema que eu peno para compreender e explicar para os grandes.

– Tá bom!

– E não se esquece, Titi ama demais você, tá bom?

– Uhum!

Nessa hora seu choro cessou, o meu continuou, mas era a minha dor, a minha pequena expondo todo seu medo em forma de birra, era a minha grande tentando assumir novamente o controle daquele navio.

Rodamos um pouco mais naquela terça, em silêncio, apenas estávamos ali, juntas. E tudo se ajeitou quando resolvemos procurar um Mulungu para chamar de nosso.